sexta-feira, 20 de junho de 2014

Porque escrever um plano de negócio e quando começar

Capitulo degustação do livro Plano de Negócio em 40 Lições, de Marcos Hashimoto e Cândido Borges, Ed. Saraiva, 2014.

Aula 5. Porque escrever um PN e quando começar


Um plano de negócio serve a três funções. Em primeiro lugar, ele pode ser usado para desenvolver ideias a respeito de como o negócio deve ser conduzido. É uma oportunidade para refinar estratégias e ‘cometer erros no papel’ em lugar de na vida real, examinando a viabilidade da empresa sob todos os pontos de vista, tais como o mercadológico, o financeiro e o operacional. O plano de negócio, para este fim, tem como primeiro leitor o próprio empreendedor, que vai usar o plano como um documento onde ele consolidará todas as informações relevantes e pertinentes sobre o negócio que o vai direcionar para escolhas estratégias mais bem fundamentadas.
Em segundo lugar, um plano de negócio é uma ferramenta retrospectiva, em relação à qual um empresário pode avaliar o desempenho atual de uma empresa ao longo do tempo. Por exemplo, a parte financeira de um plano de negócio pode ser usada como base para um orçamento operacional e pode ser cuidadosamente monitorada, para se verificar o quanto a empresa está se mantendo dentro do orçamento. A este respeito, o plano pode e deve ser usado como base para um planejamento estratégico. Depois de decorrido algum tempo e, a partir de então, periodicamente, o plano de negócio deve ser examinado, para se ver onde a empresa se desviou do rumo, se esse desvio foi benéfico ou danoso e como ela deverá operar no futuro.
A terceira razão para se redigir um plano de negócio é para obter apoios. Um dos principais apoios que o empreendedor precisa e para o qual ele escrever o plano de negócio é levantar dinheiro. A maior parte dos financiadores ou investidores não colocarão dinheiro em uma empresa, sem antes ver um plano de negócio. Se um empreendedor apresentar uma ideia a um financiador, ou a um investidor em potencial em busca de recursos sem ter em mãos um plano de negócio, certamente lhe será pedido que prepare um e volte depois. Ou, ainda pior, poderá não ser levado a sério, nem mesmo convidado a voltar.
A necessidade de obter outros tipos de apoio também leva o empreendedor a escrever o plano de negócio, como por exemplo: Estabelecer parcerias estratégicas com outras empresas em setores complementares, obter um contrato de exclusividade de representação de uma marca no Brasil ou na região, conquistar o primeiro cliente, negociar condições mais favoráveis de crédito junto a fornecedores críticos, convencer um funcionário chave a abandonar o emprego para se dedicar a este novo negócio, e qualquer outra situação em que o empreendedor precisa demonstrar a viabilidade e credibilidade do negócio para alguém de fora do negócio.
O plano pode ser usado como uma ferramenta de negociação. O empreendedor deve ser claro a respeito do que deseja do investidor, mas vago a respeito do que está disposto a ceder. O plano deve ser sempre dinâmico, pois sofrerá constantes mudanças. Uma boa parte das informações que embasam o plano de negócio vêm de fora da empresa e, por este motivo, são mutáveis e sujeitas a alterações e reinterpretações a cada nova ocorrência, fazendo com que projeções e suposições sejam constantemente depuradas. Sua preparação nunca termina, atualizações constantes são sempre requeridas, novas ideias ou dados financeiros atualizados são necessários, sobretudo se se tratar de uma empresa já em operação.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, um plano de negócio não serve apenas para constituir uma nova empresa. Lançar um novo negócio ou produto em uma empresa já existente também exige um plano de negócio. Da mesma forma, qualquer mudança no negócio, seja na forma da sua estratégia, no desenvolvimento de novos mercados, na re-estruturação operacional, no credenciamento de novos fornecedores ou mudanças na estrutura do modelo de negócio também pode exigir a elaboração de um estudo detalhado do impacto destas mudanças no negócio, na forma de um plano de negócio.
Quando escrever um plano de negócio
O senso comum diz que a partir do momento que o empreendedor tem a ideia de negócio que quer montar ele já deve começar a escrever o plano de negócio, certo? Errado. Se ele fizer isso vai perder seu tempo, porque no começo, quando a ideia ainda está sendo concebida, muita coisa muda. Um plano de negócio neste momento é um mero exercício de adivinhação. Como bem disse o professor Bob Caspe da Babson College, ‘escrever um Plano de Negócio nos primeiros meses de uma startup é o mesmo que um garoto de 12 anos planejar o seu casamento’.
Por outro lado, depois que o negócio já foi implantado e entrar em velocidade de cruzeiro aí já é tarde demais pensar em plano de negócio, pois a parte mais crítica já passou, a parte mais complicada, que exige um bom planejamento, já virou história e, neste momento, um plano de negócio não vai ajudar muito.
É importante deixar claro que estamos falando de ‘escrever’ um plano de negócio. A elaboração do plano, na verdade, já começa desde o momento em que o empreendedor tem seu primeiro vislumbre da oportunidade. A partir do momento que ele começa a pensar na sua ideia, já está organizando os pensamentos, desenvolvendo a ideia e construindo o seu conceito de negócio. Neste momento ele ainda não está ‘escrevendo’ o plano em si.
Isso posto, qual o melhor momento para escrever um plano de negócio? Se não pode ser cedo demais nem tarde demais, qual é o melhor momento? Pode ser estabelecido em termos de tempo? Depois de ‘x’ meses de existência? Pode ser estabelecido em termos de porte? Quando atingir ‘n’ funcionários? Pode ser definido em termos de ciclo de vida do produto? Quando o produto já estiver pronto para ser produzido e comercializado em escala? Existe uma resposta padrão para esta questão?
Bem, existem dois critérios que vão determinar o melhor momento para começar a escrever o plano de negócio, o primeiro é quando o risco do negócio atingir um tamanho que seja proporcionalmente alto para o empreendedor. O segundo é quando o empreendedor precisar convencer alguém a apoiar o negócio. Fora estas duas condições não há necessidade de escrever um plano de negócio.
Vamos imaginar que você vai começar o seu negócio e assume o pressuposto que não vai usar capital de terceiros, apenas suas próprias reservas pessoais. A não ser que tenha um volume razoável para investir, na maioria das vezes você precisará começar pequeno e estar disposto a crescer devagar, no ritmo do volume de investimentos que você pode fazer. Neste caso, não precisa convencer ninguém, a iniciativa depende só de você.
Se for montar uma loja de cosméticos, por exemplo, começa como revendedor da Natura. Se for abrir uma escola, começa dando aulas particulares. Se for entrar no ramo de comércio exterior, começa com uma representação comercial. E antes que você pergunte, a grande maioria dos negócios pode começar pequena, até uma siderúrgica pode começar com coleta de latinhas para reciclar. Nestes casos, você precisa de um plano de negócio? Não! Sabe por quê? Porque o risco e baixo. Se você perder, perde pouco. O esforço para coletar informações para escrever um plano de negócio de uma loja, uma escola, uma importadora ou uma siderúrgica é muito grande diante do alto grau de incerteza que existe nesta fase do negócio. Qualquer coisa que você escrever neste momento é puro exercício de adivinhação. Por isso, esqueça a ideia de que precisa ter um plano de negócio antes de começar um negócio.
Na medida em que o negócio vai se desenvolvendo e crescendo, o empreendedor vai adquirindo conhecimento sobre o produto, sobre o mercado, sobre as operações. Vai ampliando sua rede de contatos, vai se familiarizando sobre as particularidades da área (vulgos ‘macetes’) e consequentemente, reduzindo a incerteza inicial. Este aprendizado vai dar mais consistência para ele reunir as informações necessárias para seu plano de negócio, mas ainda não é o momento de escrever.
O momento chega quando ele atinge um ponto em que o risco passa a ser alto. Pode ser na hora de abrir a primeira loja, construir a escola, comprar o primeiro avião, importar a primeira máquina, etc. Se tudo der certo, em algum momento o empreendedor precisará tomar a decisão de dar um grande salto. Um pouco antes disto o empreendedor então escreve o seu plano de negócio. Não vamos esquecer uma das principais finalidades do plano de negócio que é reduzir riscos. Um dos fatores que fazem com que o risco seja perceptivelmente alto é o grau de incerteza. Quanto maior a incerteza, maiores as chances de algo não previsto acontecer. O outro fator é o impacto. Quanto maior o impacto (neste caso, financeiro), mais o empreendedor tem a perder e, portanto, maior o  risco.
O segundo critério para decidir escrever um plano de negócio é quando o empreendedor precisa convencer alguém sobre o seu negócio. Neste caso, o documento serve como um instrumento de comunicação para um futuro parceiro, cliente, sócio, investidor, funcionário-chave, fornecedor, governo, etc. Quando as informações são usadas apenas pelo empreendedor, não há necessidade de um plano escrito. Quando ele precisa trazer alguém de fora para o empreendimento então surge a necessidade de colocar a ideia no papel de forma estruturada e convincente, o plano de negócio.
Alguns especialistas consideram ainda um terceiro critério: Quando o negócio atinge um certo grau de complexidade e as informações começam a se perder em sua memória. Podemos concordar que neste caso o empreendedor precisa registrar suas informações em algum lugar, mas o fato de registrar isso não significa que ele tem um plano de negócio, pois o plano é escrito com um objetivo principal que é verificar a viabilidade e a atratividade de um negócio e não um diário com dados do negócio.
Por último, outros dizem que o plano de negócio é necessário sempre que o negócio exige algum grau de planejamento e que planejamento é necessário a partir de quando o empreendedor começa a agir para colocar o negócio de pé. Consideramos que o empreendedor não pode planejar demais nesta fase pelos motivos já expostos. Além do mais, planejar demais pode significar paralisia na ação. O empreendedor acaba adquirindo um medo de fracassar por puro excesso de informação. Para o verdadeiro empreendedor, pensar demais leva à estagnação. O empreendedor quer agir, sempre!
Sobre o preenchimento.
·         O plano de negócio é um documento híbrido – enquanto uma parte faz uma projeção pragmática do negócio, outra parte atua como uma ferramenta de vendas, mesclando conteúdo com apresentação. As informações devem ser precisas, mas deve transmitir uma sensação de otimismo e entusiasmo.
·         Ao preencher o plano, tenha sempre em mente o objetivo para o qual ele está sendo escrito. O nível de detalhes, a linguagem e a transparência do conteúdo vai variar dependendo de quem vai lê-lo. Um investidor, por exemplo, vai se interessar pelos dados financeiros, sobretudo sobre o retorno do investimento. Já um especialista vai prestar mais atenção nos detalhes técnicos do negócio.
·         O plano de negócio deve atuar apenas como o primeiro contato com o investidor. Se ele transmitir, de forma clara, legível e digerível, as metas e processos básicos da empresa, um investidor lhe dará atenção e pedirá mais detalhes, inclusive chamando o empreendedor para uma reunião. Preocupe-se, portanto, em apresentar informações reais e que possam facilmente ser comprovadas quando solicitado.
·         O tamanho ideal de um plano de negócio é de 20 a 25 páginas, dependendo do objetivo, porte e situação da empresa. Tenha em mente esta informação enquanto preenche, de forma a manter a objetividade do plano, colocando apenas as informações relevantes e deixando todo e qualquer material comprobatório, suplementar ou ilustrativo como anexo ao final do documento. É um grande desafio conseguir colocar toda a complexidade de um negócio em menos de 25 páginas, mas a capacidade de síntese é necessária para levar em consideração que investidores estão recebendo e lendo planos de negócios todos os dias. O ideal é que o empreendedor escreva uma primeira versão completa do plano, sem limite de páginas, simplesmente consolidando todas as informações que puder coletar e só depois, com tempo e concisão, selecionar as informações mais relevantes que farão parte da versão resumida de 20 páginas.
·         Existem várias estruturas diferentes que podem ser tomadas como base para distribuir e dividir as informações do plano. Não existe um modelo ideal, pois cada tipo de negócio exige uma estrutura diferente e isso não pode ser padronizado. Este livro trará um modelo padrão que deve considerar as particularidades de cada tipo de negócio diferente. O importante aqui é que, não importa qual estrutura se adote, o plano propicie uma leitura fluida e agradável, de forma que o leitor vá construindo a ideia do negócio na medida em que vai lendo o plano.
·         O tom deve ser empresarial. Se houver excesso de sentimentalismo, as pessoas não levarão o plano a sério. Elas reagirão bem a uma apresentação positiva e interessante e se desinteressarão por uma que seja vaga, prolongada, subjetiva ou que não tenha sido bem ponderada e organizada. Apesar disto, o plano não pode ser monótono e cinzento. Embora formal, a linguagem precisa ser atrativa e provocativa, carregando uma energia que transparece ao leitor todo o desejo do empreendedor.
·         Cuidado com erros de gramática e ortografia. Esses erros podem gerar uma imagem negativa sobre o empreendedor e, portanto, sobre todo o empreendimento. Faça com que alguém qualificado nesta área revise o plano, para eliminar esses pequenos aborrecimentos que podem ter um forte impacto sobre os leitores. O mesmo vale para erros de concordância, acentuação e digitação.
·         Não tenha pressa para elaborar o plano. Para garantir a qualidade, um bom plano deve cobrir informações abrangentes, bem resumidas e pertinentes. Na maioria das vezes, estas informações não se encontram facilmente consolidadas para compor o plano, devem ser procuradas, trabalhadas e manipuladas antes de ser colocadas no plano. Desta forma, é recomendável que se escreva o plano paulatinamente, na medida em que as informações são obtidas, e não de uma vez só.
·         É possível solicitar a ajuda de um consultor especialista em planos de negócios. O cuidado a se tomar aqui é não delegar ao terceiros toda a redação do plano, afinal o plano é do empreendedor e ele deve ser a pessoa mais interessada no negócio. Portanto é o empreendedor que deve assumir a responsabilidade de redigir o plano. Um plano escrito por terceiros nunca vai ser o plano do empreendedor. O consultor pode ajudar na revisão da linguagem, na sugestão de fontes de informação, na orientação sobre o preenchimento de aspectos técnicos do plano, como o plano financeiro e até redigir partes do plano, mas nunca o plano completo.
·         O empreendedor deve tomar a atividade de escrever seu plano de negócio como um processo de aprendizado sobre o seu negócio. Na medida em que ele vai preenchendo as informação do plano ele acaba sendo forçado a aprender mais sobre o setor de atuação, os aspectos operacionais, o mercado, entrando a fundo nos dados, interpretando, analisando e concluindo. Como se costuma dizer, o mais importante no plano de negócio não é o plano em sim, mas tudo o que envolve o seu processo de elaboração.
·         Muitas das perguntas que se deve fazer para preparar um plano de negócio precisam ter uma resposta, ou devem, ao menos, ser respondidas com ‘não pode ser respondido neste momento, mas deve ser monitorado’, pelo bem da sobrevivência da empresa. Às vezes uma pergunta-chave é negligenciada, contrata-se mão-de-obra, inauguram-se as instalações, iniciam-se as vendas e só depois, como taxímetro rodando, descobre-se que algumas autorizações ou licenças eram necessárias antes de se abrir a empresa, justamente o que a pergunta alertava. Por isso o plano serve também como um check-list, um guia que indica ao empreendedor quais são as informações importantes que ele ainda está devendo e, dependendo do caso, pode ser fundamental que as obtenha antes de decidir abrir o negócio.
·         Cuidado ao dar ênfase no preenchimento a argumentos exclusivamente de venda da ideia. Esta ênfase pode levá-lo a redigir um plano exagerado, destituído da objetividade necessária para testar a viabilidade realista da ideia ou de servir como ferramenta de planejamento e medição. Não vamos negar que um plano sempre vai servir como um instrumento de venda da ideia de negócio, no entanto, este objetivo não deve ser escancarado como se fosse um prospecto comercial de venda de apartamentos. O plano deve despertar o interesse sobre o negócio e não vender o negócio, trata-se apenas de uma das etapas do processo de negociação com um futuro investidor.

Para quem se escreve um PN
O empreendedor é, obrigatoriamente, o primeiro leitor de um plano de negócio. Você deve perguntar: Mas isso é óbvio, afinal não é ele quem escreve o plano de negócio? A verdade é que assim deveria ser, mas na prática não é bem o que acontece. Muitos empreendedores não possuem a competência para escrever um plano de negócio ou não se sentem seguros o suficiente, às vezes, também alegam não ter tempo. Então acabam delegando para suas equipes ou para um consultor contratado exclusivamente para este fim. Tomando como base que o plano de negócio é um instrumento que consolida as informações de um negócio de forma que permita uma compreensão integral do negócio, então, a primeira pessoa que deve ler é o próprio dono do negócio. Se ele não se convencer da ideia apresentada no plano de negócio, ninguém mais acreditará. Neste caso, o plano de negócio deve ser escrito de forma bastante transparente, sem rodeios, com algum grau de estruturação, sem limite de páginas. Este plano de negócio pode ter 100, 150 até 200 páginas, pois é um documento interno, que consolida absolutamente tudo que o empreendedor aprender sobre o negócio. Trata-se de um portfólio de dados sobre o negócio.
Uma vez convencido da viabilidade da ideia, o próximo passo do empreendedor é convencer outras pessoas. Para montar um novo negócio, o empreendedor pode precisar de outras entidades-alvo. A seguir alguns exemplos:
·      Mantenedores das incubadoras (Sebrae, universidades, prefeituras, governo, associações etc.): para outorgar financiamentos a estas;
·      Parceiros: para definição de estratégias e discussão de formas de interação entre as partes;
·      Profissionais especializados: para convencê-los a abandonar o atual emprego e aceitarem trabalhar para o empreendedor em um negócio nascente;
·      Banco: para outorgar financiamentos para equipamentos, capital de giro, imóveis, expansão da empresa etc;
·      Investidores: fundos de capital de risco, pessoas jurídicas, bancos de investimento, investidores anjos, BNDES, governo etc;
·      Fornecedores: para negociação na compra de mercadorias, matéria-prima e formas de pagamentos;
·      A empresa internamente: para comunicação da gerência com o conselho de administração e com os empregados (efetivos e em fase de contratação);
·      Os clientes: para venda do produto e/ou serviço e publicidade da empresa;

·      Sócios: para convencimento em participar do empreendimento e formalização da sociedade.

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